25/03/2008

O Livro do Samurai


Hagakure


"..se você for morto em batalha, você deve estar disposto a ter o seu cadáver enfrentando o inimigo."

Yamamoto Tsunetomo






Hagakure – que pode ser traduzido tanto como “folhas ocultas” ou “oculto pelas folhas” – foi publicado em 10 de Setembro de 1716 e é uma compilação das filosofias de Yamamoto Tsunemoto, um vassalo de Nabeshima Mitsuhige, o terceiro senhor do que agora é a prefeitura de Saga.
O livro é considerado não tanto pela sua filosofia, a qual disserta sobre assuntos profundos até mundanos passando por absurdos, mas pelo contexto histórico em que ele foi escrito.

No ano em que Mitsuhige faleceu, em Maio de 1700, o Japão havia completado exatamente 100 anos de paz. Isto tinha deixado os samurai com o mesmo problema das forças militares modernas: o que é feito de um guerreiro disciplinado, orgulhoso, em épocas de paz duradoura?

Essa mesma questão é discutida actualmente: assuntos políticos e problemas orçamentários sobrepõe-se à prontidão e à moral militar. Considere então o que o samurai - guerreiro do Japão feudal fanaticamente obcecado com honra e pronto para dar a vida pelo seu senhor - deve ter sentido ao ver a sua profissão estagnar.

O próprio Tsunemoto foi proibido de cometer junshi, o suicídio ritual em que o vassalo segue o seu senhor na morte, pelo Shogunato Tokugawa e isso, sem dúvida, contribuiu para a sua frustração. Portanto, sob um ponto de vista, Hagakure não é apenas “O Livro do Samurai”, mas sim um último suspiro de uma casta em extinção (Entretanto, o “culto do guerreiro” haveria de aparecer mais duas vezes com trágicas conseqüências na história recente do Japão: uma vez durante as rebeliões do Exército Imperial que levaram ao Incidente da Manchúria e à Segunda Guerra Mundial, e outra em uma escala menor, quando um dos mais famosos autores do Japão, Yukio Mishima, cometeu o suicídio ritual samurai seppuku num quartel general das forças armadas japonesas por várias razões, entre elas a sua obsessão com o Bushido, o código de conduta do guerreiro samurai).

A filosofia do Hagakure é uma típica fusão entre o Zen e o Confuncionismo que prevalecia durante o período Edo (1600-1868). Este sistema social único foi promulgado pelo Shogunato Tokugawa porque a ênfase confuncionista em adoração aos antepassados junto com o Zen fortalecia a idéia de status quo no conceito do sistema de classes feudais, como a devoção filial e o respeito à profissão. Portanto, a idéia de que filhos de fazendeiros deveriam ser fazendeiros e de que filhos de samurais deveriam ser samurais foi fortalecida, protestar sobre a sua própria posição seria desrespeitar os próprios pais e infringir a lei era algo que trazia uma vergonha insuportável para todos, sua família e conhecidos.

Ainda que o Japão se esteja a tornar cada vez mais ocidentalizado nos últimos tempos, as regras do Shogunato de 268 anos ainda tem forte influência no comportamento japonês. Portanto, para entender os japoneses, é útil entender a sua história sócio-política.

O Hagakure, além de pintar o retrato histórico do samurai durante o período Edo, tem alguns ensinamentos filosóficos preciosos, tais como:

  • Ter apenas sabedoria e talento é o que menos conta;
  • É difícil os hábitos de um tolo mudarem para o altruísmo;
  • Um samurai sem um grupo e sem cavalo não é um samurai;
  • Um homem existe apenas por uma geração, enquanto o seu sobrenome dura até ao fim dos tempos;
  • Continue a esporear um cavalo que já está correndo;
  • Sem dúvida não há mais nada do que o propósito do momento presente. A vida inteira de um homem é feita de uma sucessão de momento após momento: se a pessoa entende completamente o momento presente não haverá mais nada a fazer e mais nada para se alcançar;
  • Em todas as negociações é essencial ter uma aproximação sem idéias pré-concebidas. A pessoa deve dar, constantemente, a impressão de que ele está fazendo algo excepcional e isto é possível apenas com um pouco de empatia;
  • Uesugi Kenshin (um famoso daimyo) uma vez disse: “Eu nunca penso em ganhar do começo ao fim, mas sim em não ficar para trás em qualquer situação”;
  • O fim é importante em todas as coisas (Yamamoto frisa este ponto várias vezes, usando vários exemplos para mostrar que se as coisas terminam mal, tudo que foi feito de bom anteriormente não vale nada. Isto enfatiza a idéia da pessoa estar focada em todo momento presente, para deste modo nunca ser negligente).

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